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Morre aos 81 anos Sinval de Itacarambi Leão, fundador e editor da Revista Imprensa

Foto: Divulgação

Mais velho entre os seus cinco irmãos, veio ao mundo, na zona rural de Araçatuba, interior de São Paulo, com o sobrenome trocado. A ascendência paterna, uma corruptela de Itákurubi, que significa “pedregulho, seixos”, de origem Tupi-Guarani e nome de uma cidade do norte de Minas Gerais, a margem esquerda do Rio São Francisco, acabou sendo deslocada para o meio. 


De origem humilde, encontrou na igreja a oportunidade para o conhecimento. Foram 14 anos de dedicação à Ordem de São Bento, a que pertencem os monges beneditinos. As experiências transformadoras da infância para a adolescência e, depois, para a vida adulta, foram atravessadas pelos dogmas morais e espirituais da fé cristã. O batismo extramuros do internato, iniciado alguns anos antes na faculdade de Filosofia, emergiu quando se desligou do monastério.


Eram tempos difíceis os da ditadura militar brasileira. Preso duas vezes durante o regime de exceção, em 1969 e 1971, e brutalmente torturado em ambas as passagens por associação com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), fundada por Carlos Marighella, e por conspirar contra o país, acabou enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Do ponto de vista factual, foi preso a primeira vez por sua amizade com os frades dominicanos. 


Não bastasse o histórico dos amigos com os quais convivia, a editora Vozes, onde trabalhava, se posicionou contra o regime e publicou obras importantes nos anos de repressão. Com esse histórico, os militares estavam certos da conexão do jornalista com o comunismo. Conseguiu a liberdade, em definitivo, em 1971, respondendo a processo do Estado por ser membro da ALN. 


Guardou durante muitos anos o recorte do jornal Diário Popular (hoje Diário de S.Paulo), que publicou a decisão do julgamento, com destaque para a condenação dos freis Carlos Alberto Cristo e Yves dos Amaral Lesbaupin. No texto, o periódico citava a absolvição de Sinval de Itacarambi Leão por unanimidade do tribunal “por carência de provas”, processo em que também foram inocentados o filósofo dominicano Roberto Romano, preso junto com Sinval, e a amiga e jornalista Rose Nogueira.


Atuou como repórter nas revistas Realidade e Visão e passou rapidamente pela Folha de S.Paulo. Migrou para o Departamento de Pesquisa de Mídia da agência de publicidade Lintas e de lá seguiu para a DPZ. Ficou na agência até os militares reaparecerem para buscá-lo. O erro foi o local: tinham o endereço da Lintas. Os amigos o avisaram e, dessa vez, não esperou ser capturado, pegou a família e “saiu de férias”.


A situação começa a melhorar a partir de 1974, ao assumir como diretor de Serviços de Marketing na Rede Globo, posto que exerceu até 1982 quando foi transferido como diretor Comercial da Globo Minas. Criou e coordenou projetos relevantes, como o prêmio “Profissionais do Ano”, em vigor até os dias de hoje. 


Ao sair da emissora, lançou em 1987 a Revista Imprensa, ao lado dos jornalistas Paulo Markun, Dante Matiussi e Manoel Canabarro, da qual foi o único fundador a permanecer e dar continuidade ao projeto. 


Foram 38 anos à frente da publicação, período em que Imprensa recebeu dois Prêmios Esso de Jornalismo, em 1987 e 1994, o principal reconhecimento da categoria. O exercício contínuo de valorização da vida e dos direitos humanos, a promoção de debates e a criação do Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo (em 1989), pró-martir da liberdade de imprensa, e do Troféu Mulher Imprensa, o primeiro a reconhecer o trabalho feminino no jornalismo, são alguns exemplos dos valores que sustentaram sua conduta. Recebeu com orgulho a Medalha Juscelino Kubitschek (2013) por serviços prestados à cultura de Minas Gerais.


Em 2012, iniciou quadro de insuficiência cardíaca, que aos poucos gerou outras comorbidades. Desde então, teve como médico e amigo o cardiologista Dr. Renato Azevedo Junior, ex-presidente da Associação Médica do Hospital Samaritano de São Paulo, do qual integra o corpo clínico desde 1993. 


Trabalhou diariamente em seu escritório até o início do ano, mantendo uma rotina de leitura voraz de clássicos, atento as últimas notícias e aos jogos do Corinthians. Sempre acompanhado da medalha de São Bento envolta ao pescoço. Deixa a esposa Ruth, companheira de mais de 50 anos, quatro filhos, os quais reestabeleceu o sobrenome trocado no passado, e seis netos. 


O velório será terça-feira, dia 06 de agosto, das 8h às 14h, no Funeral Home em São Paulo, próximo à Av. Paulista.


Informações:

Dia 06/08/2024, terça-feira, das 8h às 14h

Funeral Home

Rua São Carlos do Pinhal, 376 Bela Vista SP 

Fonte: Portal Imprensa

Maike Trancoso

Fundador do Jornal online O Leopoldinense e portal Tempo - ES Vice-presidente do portal de notícias GIRO ES

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